Uma Breve Reflexão sobre o Impedimento do Culto Público Solene

A imagem do Tabernáculo vazio, sem a presença dos sacerdotes e suas atividades, nos faz pensar na importância da adoração para o povo de Deus. Pois, Se os "crentes" não valorizarem os cultos, a santa convocação solene, a comunhão, perseverança na oração e doutrina como podemos esperar que os ímpios façam isso?

A maioria dos denominados "cristãos" brasileiros, como alguém já afirmou, “precisa se arrepender do seu falso arrependimento”. Deus usa os ímpios também para disciplinar seu povo, como aconteceu frequentemente nos tempos dos Juízes e nos dias de Nabucodonosor. Precisamos considerar atentamente o que diz a Escritura e aplicar a situações sempre vivenciadas na história da igreja:

"Se eu cerrar os céus de modo que não haja chuva, ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra, ou se enviar a peste entre o meu povo; se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra." (2Cr 7.13-14). 

Não se ver na maioria dos chamados "cristãos" de nossos dias, as atitudes mencionadas no texto, "humilhação, oração, busca, conversão dos maus caminhos", e percebamos que isso é dito para o povo de Deus e não simplesmente para o descrente. Mesmo quando os cultos são impedidos pelos magistrados, e na maioria das vezes não se percebe fidelidade, devoção e zelo genuíno quando são liberados. E o que poderíamos dizer das esquecidas e desprezadas reuniões de oração e doutrina? O curioso desse último decreto é que está permitido atividades apenas durante a semana, quando essas ocorrem.

Se considerássemos a presente questão à luz dos decretos e providencia divina, seria possível entender como mais uma advertência e repreensão do Senhor para darmos o valor devido que não estamos dando ao seu Santo Dia e Culto Solene e outras oportunidades que temos de aproveitar a comunhão e aprendizado de sua Santa Palavra.

Mais uma vez ecoa em nossa mente o pensamento inicial, “se os ‘crentes’ não valorizam os cultos e demais atividades da igreja, tratando-as como não essenciais para suas vidas, como podemos esperar que os ímpios façam isso?”.

Quando Deus quis libertar seu povo, fez isso livrando-o das mãos de Faraó e seu exército mais poderoso daquela época. Será que os magistrados civis não tem sido um reflexo da apatia de muitos "cristãos" com relação as sagradas ordenanças, ao próprio Senhor e a adoração que lhe é devida?

Se considerarmos as palavras de Moisés, a solução para a pestilência passa pela submissão, obediência e adoração ao Senhor, ele disse: "O Deus dos hebreus nos encontrou; deixa-nos ir, pois, caminho de três dias ao deserto, para que ofereçamos sacrifícios ao SENHOR, nosso Deus, e não venha ele sobre nós com pestilência ou com espada"(Êx 5.3).

Qual foi o resultado da dureza do coração de Faraó naqueles dias? Dez pragas e prejuízos sobre a terra Egito antigo. Vê-se o desprezo do Faraó diante da mensagem de Moisés, nas seguintes palavras: “Quem é o SENHOR, para que eu lhe dê ouvidos, ou concorde com ele?”(Êx 5.2). Faraó era considerado deus, ou filho do deus sol. Diante disso para ele quem era o Deus dos hebreus que lhe viesse pedir alguma coisa? Para ele apenas algum possível soberano que ele não conhecia e nem dava importância. 

Naquele contexto, Deus passou a subjugar todos os deuses do Egito representados nos elementos da natureza e no próprio Faraó e sua casa, começando pelo Nilo e o próprio sol "o pai de Faraó". Em seguida o seu filho, herdeiro do trono, e por último o próprio rei do Egito, seus oficiais e todo o seu exército, destruindo-os com apenas um toque nas águas do mar vermelho.

Matthew Henry comentando o fato de Faraó depois da nona praga, e o seu oficial afirmar que o Egito estava assolando, quase deixa uma parte do o povo, apenas os homens, ir adorar ao SENHOR. Afirma que na verdade, “por trás de Faraó estava satanás, querendo impedir que os filhos de adorassem juntamente com seus pais”(Êx 10.7-10).

Temos um paralelo dessa situação no livro de apocalipse, onde as pragas são lembradas nos flagelos, onde nos é dito que os reis da terra, seduzidos pela serpente, se uniram e conspiraram contra o Senhor, contudo, veio fogo dos céus e os consumiu, um simples ato de Deus os destroem totalmente.

Uma expressão no livro de Salmo nos chama particular atenção, quando se fala de conspiração dos homens contra o SENHOR e contra seu Filho Ungido (Cristo), consiste numa descrição da reação do Criador, ele simplesmente "ri deles” e ainda, diz que “no seu furor os deixará turbados" (Sl 2), detalhe que mais uma vez nos lembra das palavras do livro de apocalipse, ao descrever o assombro dos homens perante Deus, dizendo aos montes:

"Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?"(Ap 6.15-17).

E no caso de Faraó, ele também terminou humilhado perante Deus, será que não cremos mais na intervenção divina tanto em disciplina e juízo quanto em libertação e misericórdia. Dessa forma, iremos acumular incredulidade ao pecado de negligência e descaso espiritual, além da omissão em repreender o opressor e defender a causa do órfão, da viúva e de qualquer outro que seja oprimido. Esquecendo nosso papel não apenas sacerdotal, mas também profético. Lembremos que o capítulo primeiro do profeta Isaías trata especialmente do culto hipócrita, fingido e é um texto bem enfático comparando seu povo a Sodoma e Gomorra:

"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? -- diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas" (Isaías 1:10-17).

O que fazia os profetas perante reis e governos tiranos? Certamente não se calavam, intercediam a Deus por eles, e falava-lhe acerca da vontade de Deus, abriam a boca em favor da justiça e do bem comum. Será que se eles tivessem os recursos sociais que ainda temos hoje, não usariam em favor da verdade e do bem social? Seria possível imaginar, Moisés, Jeremias, Isaías, os apóstolos e tantos outros homens de Deus como os reformadores a quem tanto citamos e admiramos, Lutero, Calvino, John Knox, todos eles assistindo de camarote à tudo em sua volta?

Eles não teriam sido presos, banidos, açoitados e mortos se tivessem permanecidos em silêncio, passando por despercebidos, calados em seu tempo, calados em favor da verdade. Eram homens de fé e coragem, basta-nos ler seus documentos e pensamentos registados nas amadas históricas confissões de fé reformadas, onde se ver bem a herança dos reformadores, que pregaram, escreveram sobre o papel do magistrado civil, enviando-lhes também cartas, temos a própria democracia moderna como legado daqueles homens, do contrário a monarquia teria permanecido em toda Europa e trazida para América.

Somos milhares de cristãos preocupados apenas com as igreja locais, o que já seria muita coisa se a preocupação fosse sempre genuína, sendo acompanhada de zelo prático. Prudência não pode ser sinônimo de omissão.

Oremos para que Deus nos livre da opressão, da peste que assola e tantos flagelos que atingem nossa pátria. E que o SENHOR tenha piedade dos magistrados a quem Ele constituiu autoridades sobre nós, para que governem com o temor e cientes que um dia prestarão contas àquele que lhes deu a vida e também o ofício que exercem, isto afirmaram e ordenaram o Senhor e seus apóstolos do Senhor. “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”(Mt 22.21). “Não há autoridade que não seja proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas"(Rm 13.1), mesmo que seja para disciplina, devemos orar por elas como disse o apóstolo Paulo no contexto dos cruéis imperadores romanos:

"Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador" (1Tm 2.1-3).

Que Deus conceda a sua graça para que busquem ao SENHOR, como fez o rei de Nínive nos dias de Jonas e assim evitaram que sua terra fosse destruída naquele momento, e não tenha os corações endurecidos como Faraó e até mesmo os próprios reis de Israel antes do cativeiro babilônico.

E quanto a nós, não culpemos somente os outros, também confessemos os nossos próprios pecados, apatia, descaso, negligência e nos humilhemos sob a poderosa mão do SENHOR, desejemos a sua Palavra como uma criança ao peito de sua mãe, valorizemos a comunhão preciosa, os benditos momentos de oração coletiva, a doutrina como o ouro refinado e destilar do mel, demos a glória devida ao seu nome, como um povo que verdadeiramente se chama pelo seu nome. Como se disse "o Deus dos hebreus" se complete sobre nós as promessas feitas a Abraão, cumpridas e aplicadas pelo leão da tribo de Judá a raiz de Davi, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso que vem julgar a terra e os que nela habitam. (Ap 22.11,12) Que Cristo Jesus nosso Senhor seja conosco.


Rev. Ivanildo S. dos Anjos.


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